Uma nova UTI

Conheça as implantações que estão sendo feitas na Unidade de Terapia Intensiva do Hospital Santa Cruz

Se a gestão de um hospital já é complexa por si só, imagine uma UTI. Para quem não sabe, mais do que um centro de saúde, todo hospital é um grande sistema que concentra e integra os mais diversos tipos de serviços, entre eles consultas ambulatoriais, pronto atendimento, exames, procedimentos, terapias, cirurgias, farmácia, hotelaria, nutrição, entre outros.  Em uma unidade de terapia intensiva, tudo isso ganha contornos de complexidade ainda maiores, pois é onde em geral ficam os pacientes em situação mais delicada, que exigem o máximo de atenção e cuidados. “A principal dificuldade da UTI é o estresse do ambiente”, diz o Dr. Sérgio Sônego Fernandes, coordenador administrativo da UTI do Hospital Santa Cruz. “Mas não precisa ser assim.”

 E a prova disso, é a Unidade de Terapia Intensiva do Hospital, que, desde junho de 2018, vem passando por uma profunda transformação em sua gestão, focada na integração de profissionais, no planejamento meticuloso do atendimento e na melhoria dos cuidados assistenciais. “A direção do Hospital foi idealizadora dessa mudança, e tem dado todo o suporte necessário”, afirma o Dr. Sérgio. 

A iniciativa é parte de uma renovação no modelo de gestão de UTIs que vem ocorrendo em todo o mundo, inclusive no Brasil. Tradicionalmente, explica o coordenador, grande parte do estresse nesse setor vinha da falta de um planejamento terapêutico que contemplasse todo o tempo de estadia do paciente na unidade, da internação à alta. O mais comum era que o cliente fosse acompanhado a cada dia por um médico plantonista diferente.  

Na nova UTI do Hospital Santa Cruz, isso não acontece: há seis duplas de médicos intensivistas totalmente à disposição dos pacientes. Em outras palavras, uma pessoa que estiver internada na UTI receberá a visita e o acompanhamento dos mesmos médicos de segunda a sexta – um de manhã, outro à tarde. À noite e fins de semana, os cuidados ficam a cargo dos plantonistas. “Graças a esse pensamento linear, a informação sobre o paciente não se perde ao longo da internação”, afirma o Dr. Sérgio.

A esse time, somam-se ainda dois coordenadores operacionais – também um de manhã e outro à tarde –, que se encarregam de traçar as metas diárias para cada paciente. Funciona assim: todo dia, às 10 horas da manhã, o coordenador reúne os profissionais responsáveis para planejar o tratamento mais adequado, com vistas a otimizar os cuidados e o tempo de internação. Médico, enfermeiro, técnico de enfermagem, fisioterapeuta, farmacêutico, nutricionista, psicólogo, assistente social, infectologista e fonoaudiólogo se juntam para alinhar o plano terapêutico daquele dia. Com um diferencial: a família é convidada a participar dessa reunião matinal diariamente, de modo a ser informada de todos os passos do tratamento. 

Ciente de que a presença da família é um fator crucial para a melhora do quadro do paciente, a nova gestão da UTI do Hospital Santa Cruz também estendeu o tempo de visita diária: o que antes era meia hora passou para 1 hora. Em situações especiais, a visita foi ampliada: no caso de pacientes idosos, ela pode ser feita das 9 horas da manhã às 9 horas da noite.  

Quanto ao planejamento terapêutico diário, vale mencionar que ele se completa no fim da tarde: às 17 horas, a equipe multidisciplinar se reúne novamente, dessa vez com o coordenador operacional daquele turno, para checar se as metas do dia foram cumpridas e, se for o caso, fazer ajustes no tratamento. Ou seja, as informações sobre cada paciente são conferidas e alinhadas entre todos os profissionais envolvidos duas vezes ao dia. 

O impacto dessas mudanças foi que, em um ano, a média de permanência na UTI do Hospital Santa Cruz caiu em 21%. Ou seja, as pessoas passaram a ter alta mais cedo. O chamado “índice de giro”, por sua vez, também aumentou significativamente. Hoje, cada leito recebe 25% mais pacientes a cada mês. O resultado foi que, com mais leitos disponíveis, o número de internações cresceu em 20%. “O perfil de gravidade dos pacientes continuou o mesmo, porém, o cuidado mais efetivo favoreceu a recuperação e a alta”, explica o Dr. Sérgio.

“A gente não fez nada de excepcional”, diz, com modéstia, o coordenador da UTI do Hospital Santa Cruz. “Apenas o essencial numa linha de cuidado.” Uma prova, segundo ele, de que às vezes bastam pequenas ações para se realizar grandes mudanças. “A terapia intensiva é uma especialidade relativamente nova, e iniciativas como essa que estamos fazendo na Instituição são como ilhas de inovação. No Brasil, já estamos num processo de transformação da saúde, com foco em melhores resultados clínicos e mais eficiência na utilização de recursos. Essa nova UTI é um passo fundamental para isso.”

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