Conexão Brasil-Japão

Como a parceria do Hospital Santa Cruz com universidades japonesas contribui para o desenvolvimento da área médica e o cuidado com o paciente

A relação do Hospital Santa Cruz com o Japão não está apenas no passado. É parte também do presente – e aponta para o futuro. É cada vez maior o número de profissionais japoneses do segmento da saúde que têm visitado o Hospital, da mesma forma como também tem sido muito comum a ida de membros da diretoria, do corpo clínico e de colaboradores ao país do Sol Nascente. O objetivo é simples: estreitar a troca de conhecimento científico entre o Brasil e o Japão, buscando levar aos pacientes do Hospital Santa Cruz o que há de mais avançado em pesquisa e inovação na área médica. 

A Universidade de Tsukuba, por exemplo, é uma das parceiras mais atuantes. Trata-se de um dos grandes polos científicos do Japão, cujo campus tem a maior concentração de PhDs (o mais elevado título acadêmico) por metro quadrado do país. Ao longo de sua história, nada menos que três pesquisadores foram laureados pelo prêmio Nobel. 

No campo da medicina, essa universidade, situada a 70 quilômetros de Tóquio, é uma das pioneiras na chamada protonterapia, procedimento de ponta no tratamento de câncer que age sobre o tumor de modo semelhante à radioterapia convencional, porém preservando os tecidos saudáveis. A técnica ainda é inédita na América Latina, mas há planos de implantá-la no Brasil. 

Enquanto isso não acontece, o acordo de co-operação internacional firmado entre o Hospital Santa Cruz e a Universidade de Tsukuba prevê o envio de nove especialistas do Hospital (três de cada vez) para um período de 21 dias de pesquisa científica no Japão, com o objetivo de conhecer de perto o procedimento. Os três primeiros foram em fevereiro deste ano: um neurocirurgião, um endoscopista e um radioterapeuta; os outros irão nos meses de setembro de 2019 e 2020. A ideia é que, uma vez a par dos benefícios da protonterapia, esses profissionais possam orientar os pacientes que desejarem realizar o tratamento fora do Brasil. A estratégia é parte do chamado Sakura Science Plan, programa do Ministério de Educação, Ciência e Tecnologia do Japão. 

A troca de conhecimento com a Universidade de Tsukuba também se dá por meio dos Simpósios de Cooperação Científica Brasil-Japão, série de encontros que vêm sendo realizados desde 2017 e dos quais também já participou a Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Na primeira edição, especialistas japoneses e brasileiros apresentaram trabalhos sobre protonterapia, neurocirurgia e controle das chamadas arboviroses (como dengue, zika e chikungunya). Na edição seguinte, em janeiro de 2018, oftalmologistas e endoscopistas gastroenterológicos japoneses estiveram no Hospital Santa Cruz fazendo demonstrações de técnicas inéditas no Brasil. Os primeiros mostraram uma maneira de desobstruir o canal lacrimal por meio do endoscópio, enquanto os segundos apresentaram um procedimento para a retirada de tumores do trato digestivo em estágio precoce, ainda ocultos embaixo da mucosa do estômago ou do intestino. Vale lembrar que o Japão é líder no diagnóstico precoce do câncer de estômago.

Outro importante centro de pesquisas com o qual o Hospital Santa Cruz possui intercâmbio é a Universidade de Osaka, uma parceria celebrada em 2016 com a realização de uma conferência internacional inédita, que reuniu especialistas japoneses e brasileiros para a troca de experiência em diversas áreas. A Universidade de Osaka, por meio do seu renomado Center for Global Health, enviou sete palestrantes: um neurocirurgião, um ortopedista, um cardiologista, um cirurgião cardiovascular, uma ginecologista, uma radiologista e uma engenheira clínica. O Brasil, por sua vez, participou com outros sete conferencistas das áreas de geriatria, neurocirurgia, cardiologia e endoscopia, além de membros da diretoria de hospitais nikkeis do Brasil.

O Hospital Santa Cruz e a Universidade de Osaka também estão planejando um inovador estudo em conjunto que irá analisar a microbiota intestinal de descendentes de japoneses no Brasil. Ao investigar o DNA das bactérias que habitam o intestino dessas pessoas e compará-las às de seus antepassados japoneses, o estudo pretende descobrir de que modo a genética e os hábitos alimentares influenciam no surgimento de doenças. Um exemplo: o fato de os nikkeis brasileiros consumirem mais carne vermelha que os habitantes do Japão (mais propensos ao peixe) faz alguma diferença na saúde das pessoas? Essa é uma das perguntas que esse estudo buscará responder. 

Já com a Universidade de Kyushu, localizada na cidade de Fukuoka, a cooperação se dá no âmbito da telemedicina e da nutrição. O cardápio japonês do Hospital Santa Cruz, por exemplo, foi remodelado graças à vinda de uma nutricionista japonesa, voluntária da Agência de Cooperação Internacional do Japão (Jica). E a prática da telemedicina, que é a troca de informações à distância, por meio de teleconferência, está avançando no Hospital graças ao intercâmbio de conhecimento com o Temdec (Telemedicine Development Center of Asia), situado dentro da Universidade de Kyushu. Um marco dessa parceria foi a realização, em março de 2018, do Encontro de Cooperação Médico-Hospitalar Brasil-Japão. Nos próximos anos, graças a essa iniciativa, será cada vez mais comum que os pacientes, por meio de seus médicos, compartilhem discussões clínicas, estudo de imagens e até realizem consultas a milhares de quilômetros de distância. 

No ano passado, em novembro, houve ainda um segundo Encontro de Cooperação Médico-Hospitalar Brasil-Japão, este realizado em parceria com o Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo e a Associação Brasil-Japão de Pesquisadores (SBPN). O diferencial desse evento foi a presença de especialistas das universidades japonesas de Kochi e Osaka. Os cerca de 60 participantes do evento puderam conhecer parte dos trabalhos nas áreas de diagnóstico por imagem, parasitologia e check-up, além de também assistir às apresentações de médicos do corpo clínico do Hospital Santa Cruz sobre cirurgia de coluna vertebral e inovações tecnológicas no tratamento de câncer gástrico. O encontro foi realizado pelo Instituto de Pesquisa e Ensino Santa Cruz (Ipesc) – uma nova iniciativa do Hospital voltada ao intercâmbio científico e cultural com instituições acadêmicas de ensino e pesquisas nacionais e internacionais.

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